Admiro teu ser.
Como um olhar sábio e minucioso analisa uma obra de arte.
Como uma fera estuda sua presa antes bem antes de atacar. Só aí então, te devoro. Só em meus sonhos mais loucos fiz de ti minha vítima, minha presa, meu alvo,
dentro de mim essa angústia desenfreada por tomar-te em mim, comigo, por fora, por dentro, e sinto. O avassalador encontro da minha mente com a tua palavra,
da tua pele com os meus olhos,
da tua alegria com o meu encanto, e do segredo com o meu silêncio; Me instiga e me destrói.
Em mim te faço dependente de tudo o que seja meu e que tenha a ver comigo, te faço fugitivo, detento, te faço desespero e pranto.
E pra mim, só pra mim se humilha, se prostra e se rende.
Ah, estou doente... As coisas mais surreais, quimeras histórias tua presença tem me despertado.
A verdade é indiferença e irrelevantes saudações.
Em mim te vejo como a lua; nua, sozinha, desprotegida... E me sinto já tua dona; destemida, disposta, heroína...
Faço de conta que só eu posso te salvar e que sou insubstituível e irresistível
e na verdade sou tão desnecessária como existir.
E te desejo só o mal. O mal do meu amor, o mal do meu silêncio, o mal do meu carinho,
o mal do bem-me-quer, o mal que eu te seria por toda a vida.
Te desejo também a decepção; A decepção de descobrir algum apego a mim,
a decepção de sentir saudades do meu estar-por-perto, e a pior de todas; a decepção de querer me chamar. Não te desejo tanto isso por guardar-te rancor.
Se não que o me-querer que te faria mal me faria um bem enorme. Também não sou egoísta, te daria o livre arbítrio de ficar comigo ou me amar. Sendo que, as duas coisas nunca foram sinônimas; se estou contigo, de repente, não é porque te amo.
e, se te amo, afinal, porque não estou contigo? Talvez não tenha te desejado o mal com tanta força.
Ou talvez, porque teria pena, Costumo ser um mal incurável terminante e irreversível. É tão estranho que te olhe assim meio de longe e meio de lado,
que em mim transborde todo o querer, o afeto, o efeito que teus lábios causam ao falar.
E falam tudo. Falam de clima, de horários, de compromissos, de festas,
de dias, de noites, de todos os outros ao redor e no mundo... menos de mim.
E os teus olhos que notam tudo, são observadores do que é belo, do que é
simpático, do que é alheio, do que é sem graça... Mas a mim não vêem nem notam.
É tão estranho o fato de eu sentir o teu se-aproximar há metros de distância e
você sem sequer imaginar o quanto, aqui, fico te desejando.
Te desejando o mal, é claro.
Que aprendi a não desejar pra mim o que não é meu.
É quase sempre certo que nunca será, e se algum dia chegar a ser,
chamarei de sorte ou acaso. O receber-algo por vontade, por desejo e anseio é pura ilusão.
Não te desejo então pra mim, porque não te tenho,
porém, me desejo pra você; por inteira.
Inteira, figuradamente, digo. Pois ando bem às metades,
faltando sempre alguma coisa, bem meia boca,
incompleta eu diria.
Mas o que tenho de mim não é tão pouco, é
definitivamente o mal que te basta. Temo o tempo.
Mas não por meu eu, e sim por ver que tem passado tempo demais sem mim.
E esse tempo demais sem mim me faz perder o controle e me torno impotente, desesperada. O caçador vira a caça, o predador vira a presa.
E só aí então; me devora. E só nesse caso, involuntária, me deixo, presa fácil.
Anne Oliveira [ Culta e puta!]
Imagem: geisamachado.blogspot.com